Setor metalúrgico vive pior crise, desde 1996
Confederação Nacional dos Metalúrgicos reúne diretoria e
avalia o momento econômico e político do país
O desemprego no setor metalúrgico nacional já equivale ao registrado em 1996 e aqueles trabalhadores ainda registrados amargam a redução salarial. Esse é o quadro de uma categoria eminentemente industrial que já representou quase 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e chega hoje a 8% do PIB. Os números são do presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos, Silvino Volz, que participou da Reunião Ampliada da diretoria da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT), realizada dias 3 e 4 de julho, em São Bernardo do Campo (SP), com objetivo de debater a conjuntura econômica e política do país e traçar um Programa de Governo dos trabalhadores para ser apresentado aos candidatos às eleições de outubro. “Somos hoje 15 milhões de desempregados no Brasil, vítimas deste governo golpista que vende empresas estatais de forma sorrateira, retira dinheiro da Saúde e Educação e dá, aos montes, para o setor financeiro especulativo, que nada faz além de ganhar mais dinheiro, cada vez mais”, critica Silvino.
Outra consequência do momento difícil para a classe trabalhadora é a terceirização de serviços, que atinge agora principalmente a área administrativa das empresas. Silvino cita o caso da Tigre Tubos e Conexões, empresa do setor plástico com sede em Joinville, que anunciou a demissão de 325 pessoas e a absorção gradativa desses trabalhadores por uma empresa terceirizada responsável pela gestão burocrática da empresa. O salário é reduzido pesadamente e o trabalhador vai para onde a terceirizada bem entende – “coloca o pessoal dentro de uma kombi e descarrega na Weg, Malwee, na Tigre”, exemplifica Silvino. “É a lógica do capital e atinge também os serviços qualificados, todos sofrem, principalmente quem ganha mais”, lembra.
Esta situação ocorre de maneira sutil na Weg, em Jaraguá do Sul. Silvino explica que, desde 2014, com o retorno da crise econômica, a empresa começou a demitir os trabalhadores com melhor salário, provocando a queda da massa salarial na categoria. “Os trabalhadores das multinacionais, especialmente do setor automotivo, estão assustados diante do desemprego, porque tudo o que foi construído nos últimos 12 anos está se perdendo”, afirma. “É visível até pelo aumento do número de mendigos nas ruas”, completa. A paralisação de grandes obras, como as plataformas da Petrobrás, o sucateamento da indústria naval e as decisões do governo Temer transformam o país em mero produtor de matérias primas – óleo diesel, minério de ferro e carne. “No Porto de Itajaí, diariamente descarregam automóveis da General Motors fabricados na Argentina, Uruguai, sendo que temos plantas da empresa em São Bernardo do Campo e em outras grandes cidades do país”, prossegue, “onde são pagos salários miseráveis”.
Silvino menciona a advertência feita pelo economista Márcio Pochmann, ex-presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), que esteve na reunião da CNM/CUT, de que “os pequenos municípios”, se não tiverem recursos e se não forem realizadas obras emergenciais que gerem emprego e renda, “estão ferrados”. A mídia tem parcela decisiva de responsabilidade pelo momento vivido no país, segundo Silvino, ao atribuir a crise à má gestão dos governos populares quando, na verdade, a destruição do parque industrial nacional aconteceu nos últimos dois anos de golpe institucional. “Mas nem toda a sociedade é burra, podem enganar alguns por certo tempo, mas não enganam a todos eternamente”, adverte Silvino. A alternativa é construir um Programa de Governo para apresentar ao povo brasileiro. A situação financeira das entidades sindicais afetou, inclusive, a participação na reunião ampliada da CNM/CUT, já que dos 94 sindicatos filiados à Confederação, apenas 31 estiveram presentes. Entre as deliberações, ficou definida ainda a realização do Congresso Nacional dos Metalúrgicos, com indicativos para 8 a 12 de abril e 6 a 10 de maio do próximo ano, em São Paulo.
(Foto em anexo, crédito CNM/CUT: Silvino – 1º à direita – participa da reunião ampliada da CNM/CUT)