Como está a presença feminina nas companhias

Serão necessários 217 anos para que as mulheres no mundo consigam paridade de participação no mercado de trabalho, salário e presença em cargos de liderança. Os dados, divulgados pelo Fórum Econômico Mundial no ano passado, mostram um longo caminho a ser percorrido. Embora mudar esse cenário ainda pareça um objetivo de longo prazo, empresas ao redor do mundo estão se dando conta de que é preciso começar a agir agora para revertê-lo mais rápido. Estudos mostram que ter mais mulheres nas organizações ajuda a aumentar a diversidade de opiniões e a falar com mais consumidores, o que acaba por beneficiar os negócios e aumentar o lucro. Para mostrar como as companhias do Brasil estão se movimentando para diversificar seu quadro de funcionários e aumentar a presença feminina nos cargos de comando, os jornais Valor e “O Globo”, as revistas “Época Negócios” e “Marie Claire” em parceria com a WILL – Women in Leadership in Latin America, organização internacional sem fins lucrativos com sedes em São Paulo e Nova York e conselho consultivo em Londres, estão lançando a pesquisa “Mulheres na Liderança”. A pesquisa tem o apoio metodológico do Instituto Ipsos, uma das maiores empresas de pesquisa e inteligência de mercado do mundo. O objetivo da pesquisa é identificar as empresas que apresentam as melhores políticas em relação à diversidade no Brasil. “Queremos criar uma competição do bem, que mostre quem está à frente neste tema”, diz Silvia Fazio, diretora-presidente da WILL no país. Esta a segunda vez que a ONG investiga o assunto, após uma pesquisa realizada no ano passado. Agora, por meio de nova metodologia desenvolvida com o Instituto Ipsos, ela diz que a pesquisa está mais abrangente ao se aprofundar em alguns temas. Para participar, as empresas devem enviar uma mensagem ao e-mail mulheresnalideranca@valor.com.br. Mais informações podem ser conhecidas no site da pesquisa (www.latamwill.org/mulheres-na-lideranca). O questionário, desenvolvido em plataforma digital, tem 43 perguntas. No fim do processo, que vai premiar as melhores colocadas, todas as organizações participantes terão acesso a um parecer sobre como estão em relação às demais nos quesitos analisados. Uma inovação deste ano, segundo Silvia, é que por meio da nova metodologia será possível identificar quais ações em prol da diversidade as empresas acham mais relevantes para o mercado brasileiro. “Queremos conhecer esse olhar nacional, voltado para a nossa realidade corporativa”, afirma. Entre os temas que serão investigados em maior profundidade está, por exemplo, a licença-maternidade e como se dá o retorno das mulheres às suas companhias. “Queremos saber quais políticas são aplicadas nessa volta ao trabalho”, diz Silvia. Segundo ela, já foram identificados grupos de networking, programas de coaching e outros estímulos em empresas que se preocupam em encorajar as mulheres a continuarem a investir na carreira após se tornarem mães. A pesquisa vai apontar também quem oferece melhor equilíbrio entre a vida profissional e pessoal com a intenção de facilitar a ascensão de mulheres na organização. Outro ponto importante da pesquisa, para Silvia, é saber como as empresas estão incentivando a presença feminina nos cargos de liderança. “Em alguns países, já existem companhias que atrelam o bônus do gestor à diversidade na equipe”, conta. Silvia diz que a pesquisa quer mostrar quais são as iniciativas para abrir espaço para as mulheres no alto escalão e como as organizações estão treinando seus gestores e funcionários sobre os vieses inconscientes na hora da contratação em relação a mulheres e interseccionalidades (como negras, profissionais com deficiência, lésbicas, trans). “Vamos saber também o que as companhias fazem interna e externamente, se participam de fóruns ou assinam compromissos a favor da diversidade.” Silvia é sócia do escritório de advocacia Norton Rose Fullbright e acredita que na área jurídica ainda há poucas oportunidades para as mulheres chegarem a cargos mais altos. Embora 55% dos iniciantes nos escritórios sejam do sexo feminino, quando se olha para o número de sócios, essa participação cai para 20%, segundo ela. “Sabemos que iguais promovem iguais, por isso queremos persuadir as lideranças masculinas a colaborar com a equidade, mostrando o quanto ela é positiva para as empresas. A pesquisa vai ajudar a mostrar isso.” Alguns setores, segundo Silvia, ainda têm dificuldade para incluir mais mulheres, como o automotivo e o de óleo e gás, por exemplo. “A mulher compra 45% dos carros no mundo e influencia 85% das aquisições de automóveis, mesmo assim poucas empresas desse segmento têm mulheres no comando”, afirma. Uma das razões é que em algumas áreas da indústria a presença feminina já é menor desde a universidade. Na gestão, as competências associadas às mulheres também devem ser valorizadas, lembra Silvia. “Na crise de 2008, as instituições que tinham um número maior de mulheres nos conselhos foram mais conservadoras e por isso se recuperaram mais rápido. As mulheres eram mais avessas ao risco”, diz. Silvia lembra que existe um potencial ignorado do trabalho feminino no mundo. Um estudo do Banco Mundial intitulado “Mulheres, Empresa e o Direito 2018” indica que, se houvesse igualdade salarial entre homens e mulheres, o PIB mundial seria 26% maior. No Brasil, haveria um aumento no PIB de 3,3%, o equivalente a R$ 382 bilhões. “Participar dessa pesquisa e estar entre uma das premiadas é uma forma de as nossas companhias mostrarem o que estão fazendo para valorizar as mulheres e de serem reconhecidas por isso”, diz Silvia. As inscrições vão até dia 3 de dezembro. Fonte: Valor Econômico, por Stela Campos, 08.11.2018

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